O
dia 18 de maio é o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Ao longo do referido
mês são organizadas diversas atividades científicas, culturais e artísticas em
diversos pontos do país a fim de sensibilizar novos atores sociais e envolvê-los
na questão (PITTA, 2011). Tal luta é marcada pela reivindicação da cidadania e
assistência adequada e pelo reconhecimento de direitos dos doentes mentais e
demais envolvidos. Confira um breve histórico:
Anos 70, ditadura militar,
construção de manicômios lucrativos sustentados por recursos públicos, maus
tratos aos usuários de instituições psiquiátricas: é neste cenário que nasce o
movimento da Reforma, conquistando visibilidade e vigor com a entrada de
diversos movimentos sociais (LÜCHMANN e RODRIGUES, 2007; PITTA, 2011). Já no fim da década de 70 surge o Movimento dos
Trabalhadores de Saúde Mental (MTST). Seus protestos giraram em torno de
melhores condições de trabalho, críticas à cronificação do manicômio, humanização
dos serviços prestados, entre outros. Em 1978 o movimento inicia uma greve que
dura cerca de 8 meses, ganhando repercussão significativa (LÜCHMANN e
RODRIGUES, 2007).
Conforme
aponta Amarante (2008, apud Barbosa,
Costa e Moreno, 2012, p. 46) “no período compreendido entre 1978 e 1987, vários
eventos foram realizados com o objetivo de fortalecimento do MTSM e também da
luta pela transformação do sistema de saúde”, a saber:
1978: realização do V Congresso Brasileiro de Psiquiatria, no qual
“testemunha-se o início de uma discussão política que não se limita ao campo da
saúde mental” (LÜCHMANN e RODRIGUES, 2007, p. 402).
1979: em São Paulo, ocorre o I Encontro
Nacional do MTSM e, em Belo Horizonte, o III Congresso Mineiro de Psiquiatria “que,
afinado com o MTSM, propõe a realização de trabalhos ‘alternativos’ de
assistência psiquiátrica” (LÜCHMANN e RODRIGUES, 2007, p. 402).
1983: em Belo Horizonte, ocorre o Encontro
Brasileiro da Rede de Alternativas à Psiquiatria, com mais de mil e quinhentos
participantes (PITTA, 2011).
1985: em São Paulo, houve o I Congresso de Trabalhadores de Saúde
Mental de São Paulo, com mais de mil participantes (PITTA, 2011).
1987: houve a I Conferência Nacional de
Saúde Mental, no Rio de Janeiro, bem como o II Congresso Nacional do MTSM, em
Bauru. Para Amarante (2008, apud
Barbosa, Costa e Moreno, 2012, p. 46) “foi um momento de renovação teórica e
política, marcado pela participação de associações na luta pela transformação
das políticas e práticas psiquiátricas.
Após
este período outros episódios importantes também podem ser citados:
1989:
o deputado Paulo Delgado apresentou o projeto de lei nº 3.657/89, que passaria
a ser conhecido como a Lei da Reforma Psiquiátrica (PITTA, 2011). Tal projeto “proíbe
a construção ou contratação de novos leitos psiquiátricos pelo poder público e
prevê o redirecionamento dos recursos públicos para a criação de ‘recursos não
manicomiais’” (NETO, 2003, p. 72).
1993: realizou-se em Salvador o I Encontro Nacional da Luta
Antimanicomial, consolidando o Movimento Nacional da Luta Antimanicomial (MNLA)
(VASCONCELOS, 2000 apud LÜCHMANN e
RODRIGUES, 2007, p. 403). Segundo Barbosa, Costa e Moreno (2012, p. 47) “os
debates incluíram a questão do reconhecimento da situação dos portadores de
transtorno mental, das novas práticas em saúde mental e dos seus direitos”.
Também
neste período foram implantados serviços alternativos não hospitalares: “na
primeira metade da década de 1990, foram inaugurados quase cem serviços de
atenção diária que seguiu crescendo inercialmente” (PITTA, 2011, p.4586).
2001: após 12 anos de tramitação no
Congresso Nacional, a Lei da Reforma Psiquiátrica foi aprovada. Neste período,
também entraram em vigência oito leis estaduais, ao passo que um conjunto de
hospitais psiquiátricos foram fechados por não atender a critérios básicos de
assistência (NETO, 2003). Conforme aponta Pitta (2000, p. 4587) “ a lei foi o
ponto culminante de um processo de normatização da assistência”.
Após
a aprovação da Lei, o acesso ao cuidado em saúde mental progrediu, entretanto
ainda há desafios a enfrentar “uma vez que ainda não dispomos de um patamar
satisfatório de recursos assistenciais no país” (PITTA, 2011, p. 4581). Desta
forma, tal condição possibilita “debates sobre seus rumos, colocando em
cenários diversos usuários, familiares e trabalhadores como protagonistas do
processo em curso na construção de uma nova forma de cuidado em saúde mental” (BARBOSA,
COSTA e MORENO, 2012, p. 46).
É
inegável a importância da Luta Antimanicomial para transformar a concepção
sobre a loucura, assim como para promover melhores práticas assistenciais. Como
visto, ainda há muitos desafios a enfrentar, no entanto também há muito o que comemorar.
Em “A Reforma Psiquiátrica” (2002), Manuel Desviat refere-se à reforma
psiquiátrica brasileira como “um dos mais frutíferos, promissores e vigorosos
processos de transformação no campo da saúde mental e da psiquiatria no mundo”
(PITTA, 2011, p. 4588).
Referências:
BARBOSA, Guilherme
Correa; COSTA, Tatiana Garcia da; MORENO Vânia. Movimento da luta antimanicomial:
trajetória, avanços e desafios. Cad. Bras. Saúde Mental, Rio de Janeiro, v. 4,
n. 8, p. 45-50, jan./jun. 2012.
LÜCHMANN, Lígia
Helena Hahn; RODRIGUES, Jefferson. O movimento antimanicomial no Brasil.
Ciência & Saúde Coletiva, v. 12, n.2, p. 399-407, 2007.
NETO, Fuad
Kyrillos. Reforma psiquiátrica e conceito de esclarecimento: reflexões
críticas. Mental - Ano I - n. 1, p.
71-82, dez. 2003.
PITTA, Ana Maria
Fernandes. Um balanço da Reforma Psiquiátrica Brasileira: instituições, atores
e políticas. Ciência & Saúde
Coletiva, v.16, n.12, p. 4579-4589, 2011.
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