sexta-feira, 7 de abril de 2017

Artigo - Vamos falar sobre o Autismo?!



No dia 02 de abril comemora-se o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a data foi estabelecida pela ONU - Organização das Nações Unidas em 2008. De fato, o TEA- Transtorno do Espectro Autista - tornou-se mais conhecido, entretanto, o tema ainda gera dúvidas e divide opiniões, por isso é importante falar sobre o autismo.   

Para Wingate et al (2014, apud Schmidt et al,2016, p. 223) “Pesquisas sobre a prevalência do autismo apontam para um crescimento significativo do número de casos diagnosticados. Estudos norte‑americanos, por exemplo, sugerem que para cada 68 crianças nascidas, uma possui esse transtorno”. O aumento dos casos de autismo implica em uma comoção e adaptação social onde hospitais, creches, escolas, empresas e até mesmo famílias devem estar informadas e preparadas para lidar com as demandas provenientes do autista.       

O manejo é facilitado a partir da compreensão dos estados e necessidades específicas do autista, segundo Teixeira (2016, p.24) “O transtorno do espectro autista pode ser definido como um conjunto de condições comportamentais caracterizadas por prejuízos no desenvolvimento de habilidades sociais, da comunicação e da cognição da criança”.  O diagnóstico é orientado pela quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana (DSM-V), os critérios envolvem questões de comunicação, interação social, padrões repetitivos e restritivos das crianças com TEA sendo que o desempenho motor não é utilizado como medida para este diagnóstico (CATELLI, ANTINO e ASSIS, 2016), desta forma é possível considerar como os três pilares do autismo, os prejuízos na socialização, na linguagem verbal e não verbal e os comportamentos repetitivos e estereotipados.         
    
 Apesar de haver algumas características comuns, quando é feito o diagnóstico do TEA é preciso compreender o perfil intelectual e a gravidade da condição autística, segundo a American Psychiatric Association (2014, apud Andrade et al,2016, p.8) “o prejuízo funcional irá variar de acordo com as características do indivíduo e seu ambiente, [...] as manifestações do transtorno variam muito dependendo dos sintomas, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica, daí o uso do termo espectro”.      
                            
Os cuidados com o autista se iniciam com a compreensão de pais e cuidadores, mas perpassam por um acompanhamento clínico, psicológico, neurológico, educacional  e social, quanto mais precoce for o diagnóstico tanto mais rápida pode ser feita a intervenção para adaptação e retomada do percurso no desenvolvimento.  Teixeira (2016, p. 44-48) indica alguns sinais de alerta, conforme abaixo, para o diagnóstico precoce do autismo, que podem ser percebidos a partir de 4 meses de idade:

Aos 4 meses de idade:  Não acompanha objetos que se movem na sua frente; Não sorri para as pessoas; Não leva as mãos ou objetos à boca; Não responde a sons altos; Não emite sons com a boca; Não sustenta a própria cabeça; Dificuldade em mover os olhos para todas as direções;  Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 6 meses de idade: Não tenta pegar objetos que estão próximos; Não demonstra afeto por pessoas familiares; Não responde a sons emitidos nas proximidades; Não emite pequenas vocalizações; Não sorri,; Não dá risadas, nem manifesta expressões alegres; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 9 meses de idade: Não senta, mesmo com auxílio; Não balbucia; Não reconhece o próprio nome; Não reconhece pessoas familiares; Não olha para onde você aponta; Não passa os brinquedos de uma mão para outra; Não demonstra reciprocidade; Não responde às tentativas de interação; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 12 meses de idade: Não faz contato visual; Não engatinha; Não fica em pé, mesmo segurado; Não procura objetos que vê sendo escondidos; Não fala palavras como “papai” ou “mamãe”; Não entende comandos como o mandar tchau; Não aponta para objetos; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 18 meses de idade: Não anda; Não fala pelo menos 6 palavras; Não aprende novas palavras; Não expressa o que quer;  Não aponta para mostrar algo; Não se importa quando o cuidador se afasta ou se aproxima; Não copia comportamentos; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 2 anos de idade: Não fala frases com duas palavras que não sejam imitação (exemplo: quero água); Não copia ações ou palavras; Não segue instruções simples; Não anda de forma equilibrada; Não entende o que fazer com utensílios comuns, como colher, telefone, escova de cabelo; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 3 anos de idade: Cai muito ao andar; Fala muito precária ou incompreensível; Não compreende comandos simples; Não consegue brincar de “faz-de-conta”; Não consegue brincar com brinquedos simples (exemplo: quebra-cabeça, LEGO ); Não tem interesse em brincar com outras crianças; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 4 anos de idade: Não brinca com outras crianças; Interage com poucas pessoas; Resiste a trocar de roupas; Não aprende histórias de “faz-de-conta”; Apresenta dificuldades na fala; Não entende comandos simples; Não usa os pronomes “você” e “eu” corretamente; Tem dificuldade em rabiscar um desenho; Perdeu habilidades que já possuía.

Aos 5 anos de idade: Não demonstra variedade de emoções; É pouco ativo; Nica distraído facilmente; Não interage com pessoas; Não sabe diferenciar o que é real do que é imaginário; Não desenha figuras; Não consegue escovar os dentes, tomar banho ou se vestir sozinho; Não conversa sobre atividades ou experiências diárias vividas; Não consegue falar o próprio nome completo; Não consegue jogar ou praticar uma série de atividades; Não usa o plural ou o tempo passado corretamente; Perdeu habilidades que já possuía.

De acordo com Cipriano e Almeida (2016, p. 82) indivíduos com TEA apresentam “comportamento característico de rigidez, repetição de movimentos e escolhas, baixa atividade exploratória (brincar empobrecido) [...], com déficit no comportamento social”, por conta das características tão individuais do autismo a questão preocupa pais e cuidadores que muitas vezes sentem que o autista vive em um mundo isolado, sendo impossível adentrar e auxiliá-lo, após o diagnóstico é preciso buscar formas de intervenção adequadas e acompanhar a evolução para cada autista.           

   O tratamento do autismo é realizado através de um plano individual já que o TEA  abrange uma série de possibilidades  e necessidades específicas.  Existem algumas modalidades terapêuticas que podem ser utilizadas como: orientação familiar e psicoeducação, enriquecimento do ambiente, medicação, terapia cognitivo-comportamental, treinamento em habilidades sociais, método ABA (Análise do Comportamento Aplicada), fonoaudióloga, terapia ocupacional, terapia de integração sensorial, método TACCH (Tratamento e Educação de Crianças com Autismo e Dificuldade de Comunicação), método PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras), método Floortime (estimula o desenvolvimento emocional e relacional da criança), uso de mediador escolar, uso de esportes, grupos de apoio, entre outros (TEIXAIRA, 2016).Tanto o diagnóstico, quanto tratamento e acompanhamento devem ser realizados por profissionais qualificados: psicólogos, psiquiatras, neurologistas, pediatras, fonoaudiólogos, profissionais da educação, entre outros, podem participar do processo.                 
                         
Referências

ANDRADE, Aline Abreu; OHNO, Priscilla Moreira; MAGALHÃES,Caroline Greiner de; BARRETO, Isabella Soares. Treinamento de Pais e Autismo: Uma Revisão de Literatura. Departamento de Psicologia, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais-BH - Revista Ciências & Cognição, Vol. 21(1) 007-022, Minas Gerais; 2016.           

CATELLI, Carolina Lourenço Reis Quedas; ANTINO, Maria Eloisa Famá D´; ASSIS, Silvana Maria Blascovi. Aspectos motores em indivíduos com transtorno do espectro autista: revisão de literatura. Universidade Presbiteriana Mackenzie CCBS – Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento Cadernos de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento, São Paulo, v.16, n.1, p. 56-65, 2016.

CIPRIANO, M. S. ; ALMEIDA,  M. T. P. de. O brincar como intervenção no transtorno do espectro do autismo. Extensão em Ação, Fortaleza, v.2, n.11, Jul./Out.-Edição especial, 2016.

SCHMIDT,Carlo ; NUNES,  Débora Regina de Paula ; PEREIRA,  Débora Mara ; OLIVEIRA ,Vivian Fátima de ; NUERNBERG, Adriano Henrique ; KUBASKI, Cristiane Inclusão escolar e autismo: uma análise da percepção docente e práticas pedagógicas. Revista Psicologia: Teoria e Prática, 18(1), 222-235. São Paulo, SP, jan.-abr. 2016,v.18-n1, p.222-235. Universidade Presbiteriana Mackenzie.


TEIXEIRA, Gustavo. Manual do autismo: Guia dos pais para o tratamento completo. 2. Ed.- Rio de Janeiro: Bestseller, 2016.

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