sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Artigo - Olhar psicológico acerca do uso da internet


           Em pleno século XXI parece fácil falar de internet, não é mesmo?  

Segundo o IGBE, em 2014 54,9% dos domicílios brasileiros tinham acesso à internet, sendo o celular o meio mais utilizado para esta finalidade. É evidente que o desenvolvimento tecnológico dos últimos tempos tornou o acesso à internet mais popular e diversificado: pessoas de várias idades e classes sociais a utilizam como fonte de lazer, ferramenta de trabalho e estudo, meio de comunicação, etc.    
                                                                     
Conforme apontam Abreu et. al. (2008, p. 157) “a internet dispensa qualquer forma de apresentação de suas funcionalidades. De fato, além de favorecer a comunicação e a busca de informações, é uma importante ferramenta de contato social”. A dimensão do tema é tão ampla que Skitka e Sargis (2006, apud Ferreira et. al., 2008, p. 306) julgam que a internet pode ser considerada um laboratório psicológico, uma vez que “seus diversos recursos têm gerado novas formas de interação, influenciando o pensamento, sentimento e comportamento”.

Assunção e Matos (2014) citam os estudos de Parks e Floyd (1996) e de Valkenburg, Schouten, e Peter (2005) que apontam para os fatores positivos que a internet pode produzir no que se refere à interação social, como a possibilidade de comunicação com os outros e com o mundo. Fortim e Araújo (2013, p. 304) consideram que a rede também pode ser “um instrumento positivo para lidar com a timidez e com a ansiedade social”. Mas há também os fatores negativos: o seu uso pode retirar os usuários de situações sociais genuínas (KRAUT et. al, 1998, apud ASSUNÇÃO e MATOS, 2014) e em situações mais extremas, a pessoa se torna dependente, conforme apontado por Sanchez-Carbonell et. al. (2008 apud FORTIM e ARAÚJO, 2013), nestes casos  a internet é priorizada na vida do sujeito que passar a se isolar e dar exclusividade às interações virtuais. 

Por ser um tema atual, estudos acerca da Psicologia e o uso da internet fornecem um panorama aberto a ser explorado. Contudo, características do uso patológico da internet já podem ser encontradas na literatura: dependência psicológica, apesar do desejo da pessoa de controlá-la ou modificá-la; dificuldades em interromper a conexão; quando em abstinência, podem ocorrer alterações de humor, irritabilidade, inquietude e ansiedade. As consequências negativas afetam diversas áreas da vida da pessoa que pode apresentar dificuldades no trabalho, como faltas e baixo rendimento, ter prejuízos financeiros, descuidar de si e dos outros, causar conflitos familiares, entre outros (SANCHEZ-CARBONELL et. al., 2008 apud FORTIM e ARAUJO, 2013).         
                                                                                         
 Atualmente, falar de internet e não pensar em redes sociais é algo improvável. Atraindo um público cada vez maior, as redes sociais são consideradas como um “serviço cibernético que permite aos indivíduos construir um perfil público ou semipúblico acerca de si [...], o que permite que a sua informação seja vista por outros incluídos no mesmo sistema” (BOYD e ELLISON, 2007, apud ASSUNÇÃO e MATOS, 2014, p. 540). 

Ferreira et. al. (2008) consideram importante o estudo das características desta nova forma de relacionamento e de seus impactos nos relacionamentos face a face. Da mesma forma sugerem investigações mais detalhadas acerca de aspectos como o anonimato, a facilidade de acesso, a falta de privacidade e as características de personalidade que podem estar associadas ao maior uso dessa modalidade de relacionamento. Outros autores que estudaram o uso da rede social facebook, concluíram que os jovens a consideram como uma extensão da sua esfera privada, confundindo as noções de público e privado (WEST, LEWIS, e CURRIE, 2009 apud ASSUNÇÃO e MATOS, 2014). 

É notório que o surgimento da internet produziu mudanças na vida da maior parte das pessoas: novos hábitos de comunicação, relacionamento, interação, produção, compra, estudo, trabalho, entre outros. De fato, quando usada de forma moderada, os benefícios podem ser muitos, visto que a internet é uma ferramenta que facilita a execução de várias atividades, no entanto, formas acentuadas de vulnerabilidade pessoal aliadas à má utilização podem gerar problemas como o uso patológico, anteriormente citado. Estudar o comportamento das pessoas frente a este e outros recursos se faz cada vez mais necessário em virtude do alcance cada vez maior que as novas tecnologias têm atingido.

Referências:

ABREU, Cristiano Nabuco de, et. al. Dependência de Internet e de jogos eletrônicos: uma revisão. Revista Brasileira de Psiquiatria, v. 30, n.2, p. 156-167, 2008.

ASSUNÇÃO, Raquel Sofia; MATOS, Paula Mena. Perspectivas dos adolescentes sobre o uso do facebook: um estudo qualitativo. Psicologia em Estudo, v. 19, n. 3, p. 539-547, 2014.

FERREIRA, Diogo C. S. et. al. Psicologia da era virtual: atitudes de estudantes adolescentes frente ao Orkut. Psicologia Argumento, v. 26, n.55, p. 305-317, 2008.

FOLHA DE S. PAULO. Celular se torna principal meio de acesso à internet nos lares, diz IBGE. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2016/04/1757972-celular-se-torna-principal-meio-de-acesso-a-internet-nos-lares-diz-ibge.shtml> Acesso em: 21 jul 2016.

FORTIM, Ivelise; ARAUJO, Ceres Alves de. Aspectos psicológicos do uso patológico de internet. Bol. - Acad. Paulista de Psicologia,  v. 33, n. 85, p. 292-311, 2013. 

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